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Sebastião
PROJETO-GILNEY-2
Comprei um aparelho mp4 e estava todo orgulhoso. As entrevistas agora teriam mais qualidade de som. Poderia caminhar ouvindo música. As corridas vespertinas ao redor do Açude Velho passariam a ser mais estimulantes. Sempre quis ter um walkman, na infância e um CD player na adolescência. Não foi possível. Para a atual geração, pode parecer algo que, de tão fácil, torna-se difícil de entender como isto poderia ser o sonho de alguém anos atrás. Gravar e se ouvir depois, era algo mágico na década de 1980. Meu pai fazia sucesso em Patos, nas viagens de férias, com o seu equipamento nada portátil. Antes de entrar na universidade, ainda considerado “fera 2000 ” no Estadual da Prata , meu irmão já estudante de jornalismo, me emprestou um gravador de fita cassete. Foi o prenúncio de que eu estava escolhendo o curso errado e o curso do rio acadêmico iria ser corrigido quase uma década depois.
O aparelho pretinho e pequeno era o meu xodó. Muitos anônimos e famosos foram entrevistados. Época de aprendizado, de emissoras, programas, colegas, amigos. Em 2011, o São Paulo venceu o Treze no Amigão, pela Copa do Brasil por 3×0. Na chegada do Tricolor, apareceu Marcelinho Paraíba. Ali mesmo no portão que dá acesso aos vestiários, aconteceu uma espécie de minientrevista coletiva. Aproveitei para perguntar se o jogador poderia encerrar a carreira no Campinense, clube que o revelou para o futebol mundial  em 1991. Naquele instante, fazia exatamente 20 anos do seu pontapé inicial. Ele falou que gostaria muito, mas que não dependia somente de si. Na época, o atleta ainda era um menino de 36 anos. Tinha muito gás para queimar e certamente rodou até o marcador de gasolina começar a piscar, na reserva, sempre entre os titulares.
No domingo, 15 de março de 2020, Marcelo dos Santos encerrou a carreira, pela modesta Perilima da Paraíba. Por aqui também fez história no Treze, com o acesso à Série C. Apesar de não ter voltado a vestir a camisa que o apresentou aos gramados, terminou no lugar em que começou: no Ernani Sátyro, onde o seu pai foi o primeiro a balançar as redes de um estádio místico, que assim como Marcelinho é de 1975. Ambos têm justamente a mesma idade. O jogador que, já brilhou vestindo a camisa de grandes times do Brasil, como: Grêmio, São Paulo, Flamengo, Coritiba, Sport, é idolatrado na Alemanha, pelos cinco anos em que defendeu as cores do Hertha Berlin. Lá, sim, ele recebeu uma justa homenagem, com estádio lotado – mais de 25 mil pessoas gritando o seu nome.
Como o ditado alerta sobre santo de casa, em Campina Grande, um estádio praticamente vazio, foi testemunha do seu último ato dentro de campo. Assim como o velho Mp4, o inesquecível MP10, será substituído, mas sempre fará falta com a maestria de sempre. Resta saber quais foram as maiores decepções dessa carreira vitoriosa: a não convocação por Felipão, para a Copa de 2002, em um de seus melhores momentos, ou a falta de entusiasmo e reconhecimento dos torcedores, dirigentes e desportistas locais, em sua despedida. A não ser que tudo tenha acontecido para evitar aglomerações e não propagar o vírus da ingratidão. Quanto ao meu aparelho de gravações, num domingo à tarde, depois do almoço, mergulhou involuntariamente num copo de Pepsi e para sempre se calou.
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