Diz o ditado: na volta, ninguém se perde. Será? Foi dado o sinal verde para o retorno de público aos estádios, ainda que o amarelo reluzente esteja piscando.
No total, são mais de 4,6 milhões de casos de covid-19 no Brasil, dos quais mais de 212 mil foram registrados na semana passada, o 11º maior número de casos por semana dentre as 39 semanas acompanhadas. O país ultrapassou 138 mil óbitos.
É sob este cenário que o Ministério da Saúde aprovou um estudo da CBF para liberação de público com limitação à 30% da capacidade total dos estádios, cabendo aos estados e municípios o consentimento, bem como a elaboração de protocolos de segurança e desde que essa liberação seja feita de modo uniforme em todo o país. Em alguns lugares, como no Rio de Janeiro, há um movimento em prol da abertura. Em outros, como no estado de São Paulo e na cidade de Porto Alegre, o veto está mantido. Aqui na Paraíba, o movimento se mostra contrário à liberação, embora clubes façam lobby por público, motivados pela necessidade de arrecadação. Uma reunião por videoconferência com representantes dos clubes da Série A está prevista para a tarde desta quinta-feira, 24, para discutir o retorno do público.
A questão é: o que 30% representa para os clubes?
O gráfico abaixo, reproduzido do ge.com, mostra um bom retrato da taxa média de ocupação, ou seja, a relação entre a média de público e a capacidade dos estádios em que os jogos aconteceram. Dentre os 60 times que disputam as Séries A, B e C do Campeonato Brasileiro, apenas 14 equipes tem média de ocupação superior à 30%, sendo 11 da Série A e 3 da Série C.
Os argumentos mais fortes para o retorno de público envolvem o fato de diversos setores da economia terem reaberto e o fator financeiro, com clubes alegando ser necessária a arrecadação com bilheteria para fechar as contas.
Para compreendermos a situação no Futebol Paraibano, dentre Atlético de Cajazeiras, Botafogo/PB, Campinense e Treze, nossos quatro representantes no Campeonato Brasileiro, é importante destacar que de acordo com o Cadastro Nacional de Estádios de Futebol – CNEF, da CBF, os estádios Almeidão e Amigão possuem capacidade para 19 mil espectadores. Desse modo, caso haja liberação de público reduzido a 30% da capacidade, cada praça poderia receber 5.700 torcedores. No caso do Perpetão, a capacidade é de 12 mil torcedores e, portanto, estaria apto a receber 3.600 torcedores. Já no Presidente Vargas, a capacidade real é de 8.890 torcedores, número checado instantes antes da publicação deste conteúdo, e portanto poderia receber 2.667 espectadores.
Dito isso, vamos aos números reais: Neste ano, as equipes paraibanas que disputam a competição nacional fizeram 19 jogos com torcida antes da paralisação, em março. De acordo com os boletins financeiros, o maior público foi registrado na partida entre Botafogo/PB e Náutico/PE, pela Copa do Nordeste, jogo este que marcou a estreia de Léo Moura no Belo e foi acompanhado por 5.449 torcedores. Nenhum dos jogos alcançou 30% da capacidade total dos estádios. Há ainda duas partidas que registraram prejuízo: Campinense e Perilima, no Amigão, com público declarado de 803 torcedores, gerando déficit de R$ 77,15 e Atlético de Cajazeiras e São Paulo Crystal, 693 torcedores e prejuízo de R$ 2.898,25. Abaixo, os números de cada equipe.
Treze:
Com público total de 7.640 torcedores nos quatro jogos que fez como mandante, obteve média de 1.910 espectadores. Com exceção do jogo contra o CSP, no Amigão, as demais partidas aconteceram no Estádio Presidente Vargas. A receita líquida, ou seja, o valor a ser recebido após descontar as despesas da arrecadação, gerou um total de R$ 69.960,50 (sessenta e nove mil, novecentos e sessenta reais e cinquenta centavos) nos quatro jogos.
Treze x CSP | 1.878 pagantes | R$ 24.353,10 |
Treze x Nacional | 2.102 pagantes | R$ 20.182,90 |
Treze x São Paulo Crystal | 1.819 pagantes | R$ 11.467,55 |
Treze x Sousa | 1.841 pagantes | R$ 13.956,95 |
Campinense:
O rubro-negro levou um total de 12.442 torcedores nos cinco jogos, com média de 2.488 pessoas. Há de se destacar os clássicos contra Galo e Belo e a participação na Copa do Brasil, cuja renda líquida é dividida entre o clube vencedor (60%) e o perdedor (40%). Na tabela abaixo, em parênteses, o valor recebido pelo Campinense. A receita total foi de R$ 121.074,38 (cento e vinte e um mil e setenta e quatro reais e trinta e oito centavos). Houve ainda uma partida, contra a Perilima, que gerou prejuízo.
Campinense x Sport LS | 1.200 pagantes | R$ 10.747,00 |
Campinense x Botafogo/PB | 2.277 pagantes | R$ 17.014,15 |
Campinense x Treze | 3.862 pagantes | R$ 80.063,90 |
Campinense x Perilima | 803 pagantes | – R$ 77,15 |
Campinense x Atlético/MG | 4.300 pagantes | R$ 33.315,48 (R$ 13.326,19) |
Botafogo/PB:
Com disputas mais atrativas na Copa do Nordeste, foi a equipe que obteve maior público, média e receita. No total, foram 15.834 torcedores, com média de 3.166 e renda líquida de R$ 165.500,00 (cento e sessenta e cinco mil e quinhentos reais).
Botafogo/PB x Confiança/SE | 3.366 pagantes | R$ 38.513,85 |
Botafogo/PB x Náutico/PE | 5.449 pagantes | R$ 75.267,02 |
Botafogo/PB x Imperatriz/MA | 2.967 pagantes | R$ 20.763,03 |
Botafogo/PB x SP Crystal | 2.728 pagantes | R$ 23.526,60 |
Botafogo/PB x Nacional | 1.324 pagantes | R$ 7.429,80 |
Atlético de Cajazeiras:
O time sertanejo obteve os resultados mais discretos. Levou a campo 6.699 torcedores nos cinco jogos no Perpetão, com média de 1.339 torcedores. Teve arrecadação líquida de R$ 23.461,45 (vinte e três mil, quatrocentos e sessenta e um reais e quarenta e cinco centavos) nas cinco partidas, das quais o confronto contra o São Paulo Crystal lhe rendeu prejuízo superior ao lucro somado das duas primeiras partidas, contra Nacional e Campinense.
Atlético x Nacional | 1.280 pagantes | R$ 1.818,00 |
Atlético x Campinense | 867 pagantes | R$ 750,65 |
Atlético x Sousa | 3.025 pagantes | R$ 21.118,75 |
Atlético x CSP | 834 pagantes | R$ 2.672,30 |
Atlético x São Paulo Crystal | 693 pagantes | – R$ 2.898,25 |
Cabe mais uma vez salientar que estes são os números declarados nos boletins financeiros das partidas e podem ser consultados nos sites da CBF e da FPF junto às súmulas dos confrontos.
Hipoteticamente, caso houvesse limitação de 30% do público mesmo antes da pandemia, nenhuma das partidas dos clubes paraibanos como mandantes teria lotação máxima.
Treze e Campinense se manifestaram em prol do retorno de público, em quaisquer que sejam as condições, desde que tomadas medidas sanitárias adequadas. O que pesa é a necessidade financeira.
Em contato, um dos dirigentes trezeanos destacou que o Galo não dispõe, no momento, de cotas de participação ou transmissão, apesar da expectativa de recebê-las em 2021, e não recebe investimentos do poder público, seja na esfera estadual ou municipal, há dois anos. Ademais, com patrocínio interrompidos em decorrência da pandemia, sobrevive às custas de abnegados.
Já o Campinense, que conseguiu equilibrar as contas após firmar parceria com a FDA Sports, se manifestou através do presidente Paulo Gervany destacando como extremamente necessário o retorno do torcedor, desde que sejam seguidos protocolos sanitários que permitam a segurança e a proteção da saúde dos adeptos.
Por outro lado, exemplos como o surto de casos no Flamengo em evidência, onde 27 membros da delegação que viajou ao Equador acabaram contaminados levantam dúvidas quanto à viabilidade dessa proposta. Saliente-se que o clube carioca passa pelos mais rígidos protocolos de segurança, com testes realizados a cada partida. Ora, se nesse nível de monitoramento foi possível a proliferação, será que é seguro permitir público no estádio? Ao tempo em que, com bares abertos e transmissão televisiva, como evitar aglomerações de torcedores em restaurantes espalhados pela cidade? E as praias, parques, shoppings, academias? Todos liberados. Por que os estádios não?
Não faltam argumentos, sejam contrários ou favoráveis e sob as mais variadas motivações. Alguns se mostram válidos e outros, no mínimo, questionáveis. Independentemente da decisão que for tomada, é necessário que o monitoramento persista. Cedo ou tarde, o público vai voltar aos estádios. E quando isso acontecer, que ocorra não por interesses terceiros, mas em nome da segurança de todos os envolvidos.
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