Campinense e Atlético de Cajazeiras subiram ao gramado do Amigão numa tarde chuvosa, abrindo brechas para piadas infames: no Amigão vai dar trovão. Hoje a gente começa essa conversa pelo fim. Na coletiva de imprensa, Francisco Diá disse que domingo vai pra guerra. Ao apegar-se apenas a essas palavras, o torcedor nem se dá conta que a guerra começou faz tempo.
O fato é que, dada a história, tradição e consequente peso da camisa, todos nós estamos habituados a ver Campinense, Treze e Botafogo num patamar superior, tecnicamente falando, em relação aos demais clubes do estado. Este ano é diferente e apenas o Botafogo destoa. De resto, todas as equipes estão em pé de igualdade.
E foi com essa igualdade que Campinense e Atlético de Cajazeiras subiram ao gramado Amigão, numa tarde chuvosa que abria brechas para piadas infames. Mas a seriedade do jogo dispensaria brincadeiras, apesar dos lapsos de atenção dos setores defensivos de ambas as equipes nos primeiros instantes. Vale vaga na final, amigo! Na primeira etapa, os dois clubes apresentavam-se reativos, na maior parte do tempo marcando no campo de defesa e conseguindo construir jogadas ofensivas a partir do erro do adversário. Foi assim que o Campinense criou as primeiras oportunidades.
Numa dessas, Lopeu roubou a bola e ficou cara a cara com João Manoel. Ele optou por tentar driblar o goleiro do Atlético, que saltou em seus pés e evitou o gol. Na continuação do lance, Vitor Maranhão chutou e o arqueiro fez uma nova defesa de muita categoria. Numa semifinal, oportunidades como essa não podem ser desperdiçadas.
O jogo passou a ser mais estudado. O capitão Cléber marcava Marcinho individualmente e praticamente anulou o homem mais criativo do time sertanejo. O camisa 10 atleticano, por sua vez, mesmo sem a posse da bola, jogava atraindo a marcação do volante e abrindo espaços para a infiltração de outros jogadores. Ferreira, Mendes e Jhonatas aproveitavam as entrelinhas criadas por Marcinho, mas não conseguiam adentrar à área raposeira e acabavam optando por finalizações de longa distância, que paravam na segurança de Wagner Coradin. De modo geral, a maior posse de bola do Atlético na primeira etapa não se converteu em eficiência e volume de jogo, muito graças ao bom desempenho defensivo do Campinense.
No segundo tempo as coisas mudaram. O Campinense retornou com mudanças, no intuito de ajustar um pouco mais a marcação e adotou uma postura mais ofensiva.
E numa roubada de bola com rápida transição, Romeu, que havia entrado no intervalo, estufou as redes e abriu o placar. No lance seguinte, a Raposa teve mais uma oportunidade de liquidar a partida com Lopeu e João Manoel fez nova grande defesa. À essa altura não seria absurdo dizer que o rubro-negro poderia estar vencendo por três a zero. Mas, diz o hino, futebol é bola no barbante. A partir de então, o tempo fechou para o Campinense e só deu trovão. Se na primeira etapa o time sertanejo não conseguia chegar à área, no segundo tempo passou a ter mais volume, mais criação e numa bola cruzada – aliás, em lance similar ao gol de Bruno contra o Treze, no mesmo Amigão – o Atlético chegou ao empate. A semelhança na construção das jogadas destes dois gols mostra bem o dedo do técnico, e a jogada trabalhada do Trovão acabou por coroar a boa atuação da equipe. O Campinense seguiu buscando os contra-ataques de forma desordenada. A situação ficou mais difícil com a expulsão, na minha opinião justa, de Dênis. Achei que o atleta, ainda que não intencionalmente, foi imprudente e acabou sendo advertido por agressão. O arrumado time do Atlético, com um a mais e dada a inoperância do rival, insistiu na posse de bola e poderia ter saído do Colosso da Borborema com a vitória.
Ao rubro-negro, faltou qualidade. O time já demonstrou o que pode dar e já está nesse limite há alguns jogos. Não pode haver expectativa por um algo a mais. “Algo a mais” já há e não dá pra fugir disso. Todavia, é justamente diante dessa limitação que se faz necessário aproveitar as oportunidades. A Raposa não pode se dar ao luxo de perder os gols que perdeu. Lá se foi mais uma batalha e o Campinense vai precisar de atenção redobrada para não perder a guerra. Um alento aos raposeiros é que o regulamento não prevê nenhum tipo de vantagem nas semifinais. Em caso de novo empate em Cajazeiras, qualquer que seja, a decisão vai para os pênaltis. Mas, por outro lado, a situação requer atenção. Na primeira fase, o Campinense somou 17 pontos com 5 vitórias, enquanto o Nacional de Patos – que disputa a outra semifinal com o Botafogo – somou 15 pontos com as mesmas 5 vitórias. O primeiro critério de desempate é justamente o número de vitórias e, por causa dos jogos da Copa do Brasil e do Nordeste, Nacional e Botafogo só entram em campo no dia 10 de abril, depois das duas partidas entre Campinense e Atlético. Se o Campinense for eliminado com derrota para o Atlético no próximo domingo, o Nacional entra em campo contra o Botafogo sabendo que garante a Série D 2020 com uma vitória.
Para o Campinense, nada está perdido. Mesmo com os desfalques de Neilson, Jean, Chaveirinho e Dênis, todos suspensos. Francisco Diá terá toda a semana para montar seu time e apresentar algo diferente. No fim das contas, futebol se faz nos onze contra onze e o rubro-negro tem totais condições de voltar de Cajazeiras com a vaga na final. Se ocorrer, muitos vão considerar heroico. Para isso, vai precisar jogar bola com inteligência e aproveitar as oportunidades. Fácil, a gente sabe que não vai ser.