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Passar a madrugada riscando com caneta BIC, uma camisa velha para tentar deixá-la parecida com o uniforme do time de coração. Esquentar uma faca até ela ficar assustadoramente vermelha. Escondido dos pais, realizar um procedimento cirúrgico na bola Gandula, através do enxerto com um pedaço de outro balão de couro. Juntar a mesada escassa para comprar uma FIPPBOL nas Lojas Brasileiras.

Aproveitar cada instante com sua nova aquisição preciosa, até chegar em casa uma tarde e saber que o vizinho, Abim, a estourou no ferro da trave, no campo do Santa Cruz. Lá também, dar o maior pique da vida, depois de fazer um montinho artilheiro e provocar uma tempestade de areia dentro do ônibus que passava às três da tarde. Lá se foi a pelota do amigo Péricles e o policial de olho era o combustível motivacional.

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Ser perseguido pela Kombi do SOS Criança, na década de 1990, por jogar com os amigos na Casa de Saúde Doutor Francisco Brasileiro. Por quê? Ter um campo, um espaço, cenário, tablado, pronto para espetáculos em tardes de sábados e domingos infinitas e não poder usá-lo? Ir à pé de casa para o Tamborzão, percorrendo quase toda a avenida Assis Chateaubriand, treinar e depois voltar caminhando. Cansaço, fadiga? Quando é o próximo treino, mesmo? Machucar o joelho mais de dez vezes e insistir em prolongar a carreira. Campo de areia do Parque da Criança, Amigão, Vila Olímpica Plínio Lemos, campo do quartel da Palmeira, campo do SAMU, “Centro de Treinamento” do Leonel, campo do Olaria, Estadual da Prata, campo do esgoto no Alto Branco, gramado e ginásio da UFCG e UEPB, Colégio Polivalente, Pio XI, CAD, quadra, ginásio, society, poeirão…

Na falta de espaço disponível, durante uma procissão, que tal jogar no calçamento mesmo? E a pirâmide do Parque do Povo? Foi feita para o Racha da Foice. Igreja dos Mórmons também tinha peleja. A quadra deveria ser um “chama”. Atrativo para catequizar. Só não pode falar palavrão, nem tirar a camisa. “Toca esse negócio”! Apanhar da mãe, por ter desobedecido, sair na rua, organizar a pelada, voltar sujo.

No final das contas valia a pena. Custo-benefício. Ter no currículo a irresponsabilidade de ter largado o filho, que não parava quieto, no banco de reservas do Ernani Sátyro, jogar de olho na bola e ao mesmo tempo sem perdê-lo de vista. Tomar cotovelada, cravar a chuteira na coxa de zagueiro, fazer gols, ser fominha, enfrentar Treze e Campinense. A gloriosa Tokker comprada em 1998, por dez reais, ao colega de Bafanas Futebol Clube – Homem-Fera, ainda está guardada. Vez por outra sai da inatividade. Ficar olhando de longe a briga generalizada, por não ter provocado a confusão. Quem chutou, pega! A bola caiu no canal de Bodocongó. E lá vamos nós…

Tomar chuva na cara, sentar em arquibancada quente, enfrentar fila para comprar ingresso, se jogar no chão quando atiraram pedra no vidro do ônibus. Voltar caminhando pela Vigário Calixto.Quase ser acertado por um meteorito desferido pela torcida do CRB.Foram incontáveis quartas-feiras e domingos de futebol. Estúdio e estádio. Trabalho voluntário e remunerado. Aprendizado. Ofício fácil, nada difícil. Emoções, antes à flor da pele, substituídas pelo profissionalismo, ceticismo, revelações e desconfiança. Vale a pena como antes? Talvez não, mas ainda encanta. Quem sabe, por um passado que vislumbrava um futuro de um trecho da música do Skank. Volta! Mas só quando puder, futebol! Não és tão indispensável quanto parecia, mas vós sois a distração ilusória perfeita.

 

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